“A um médium é solicitado
que conheça o mínimo indispensável para que possa realizar as práticas de
Umbanda e seus rituais. Também é exigido que estude um pouco, porque só assim,
entenderá tudo o que acontece dentro de um templo de Umbanda durante a
realização das giras de trabalho.” Rubens Saraceni
Por Alexandre Cumino (Publicado no JNU- 01 - 15/11/2010)
1 Rubens Saraceni. Código de Umbanda. São Paulo:
Ed. Madras, 2006. P.79
A palavra “passe” tem origem no
Espiritismo, codificado por Allan Kardec, e traz a idéia de “passar” ou
“transmitir” algo a alguém. A doutrina codificada por Kardec tem base cristã e
encontra no Evangelho as muitas passagens em que Jesus cura as pessoas e “expulsa”
espíritos indesejados por meio da imposição de mãos. Algo que vamos encontrar
em muitas outras culturas como a egípcia, a grega, a celta, a chinesa, a
indiana ou em tradições indígenas e xamãnicas. Estudiosos do passado e do
presente se debruçam sobre os fundamentos científicos das técnicas de “passe
magnético”, desde Hermes Trimegistro, Fo-Hi, Asclépio, Pitágoras, Hipócrates,
Paracelso, Van Helmont, Mesmer, Du Potet e outros.
Na obra de Allan Kardec vamos
encontrar (A Gênese, Cap. XIV, 1:14, 15 e 18) a descrição dos “Fluidos” e sua
manipulação:
Os Espíritos atuam sobre os
fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas
por meio do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os
Espíritos o que a mão é para os homens...
Pode-se dizer, sem receio de
errar, que há nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem
se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros...
O pensamento do encarnado
atua sobre os fluidos espirituais como o dos desencarnados; transmite-se de
Espírito a Espírito pelo mesmo veículo, e, conforme sua boa ou má qualidade,
saneia ou vicia os fluidos circundantes...
“Quando o Espírito é de
elevada categoria, possui grande poder curativo, muito diferente e muito melhor
que o que possui o magnetizador encarnado.” Edgard Armond2 (2 Edgard Armond. Passes e Radiações: Métodos Espíritas de Cura. São Paulo: Ed. Aliança, 1997. P. 85)
O “Passe Umbandista” não
é apenas um “passe magnético” ou material e sim um “Passe Espiritual”, aplicado
por um espírito. Assim como Edgard Armond classificou diferentes métodos de
aplicação do Passe Magnético para diferentes necessidades, também os espíritos
que se manifestam na Umbanda aplicam métodos variados de acordo com a necessidade
de cada consulente, dentro dos variados recursos que cada espírito guia
entidade/mentor, possui. Sem esquecer que cada um recebe na medida de seu
merecimento e afinidade, podendo um encarnado bloquear uma ação positiva
direcionada a ele mesmo como conseqüência de sua postura mental. Pois muitos
merecem, mas não estão abertos emocionalmente ou psicologicamente para receber
o que a espiritualidade lhe oferece, por vários motivos como descrença,
irritação, mentalidade critica e posturas interesseiras desfocadas de um
objetivo espiritual.
O “Passe Umbandista”, para além
de “Passe Espiritual”, pode ser definido como a aplicação de um conjunto de
técnicas mágico-religiosas, além de explorar todos os recursos possíveis de
imposição de mãos, utiliza elementos e técnicas variadas e até inusitadas.
“Porém, enquanto nos centros
espíritas usa-se o passe magnético, nos centros de Umbanda também se recorre
aos passes energéticos, quando são usados diversos materiais (fumo, água,
ervas, pedras ou colares, etc.) que descarregam os acúmulos negativos alojados
nesses campos eletro-magnéticos... Nem sempre o que parece folclore ou
exibicionismo realmente o é. Se os mentores dos médiuns de Umbanda exigem
determinados colares de pedras, eles sabem para que servem e dominam seu magnetismo,
assim como as energias minerais cristalinas irradiadas pelas pedras. Ervas e
fumo, quando potencializadas com energias etéreas pelos mentores, também se
tornam poderosos limpadores de campos eletromagnéticos.”3
A finalidade é de alcançar maior êxito de acordo
com as necessidades, o merecimento e os recursos disponíveis. Cada entidade tem
a liberdade de aplicar a técnica que lhe aprouver, desde que dentro dos limites
de ética, bom senso e respeito. Embora haja um conjunto de métodos e recursos característicos
da Umbanda. Muitas entidades, em especial os pretos velhos, por exemplo,
realizam o benzimento, que se distingue do “Passe Magnético”, por empregar uma
ação mais relacionada ao poder do verbo, elementos e simbologia, considerada
“Magia Popular”. Também é possível identificar métodos complexos de Magia
Riscada (Magia de Pemba), abrindo espaços mágicos (Pontos Riscados) que muitas
vezes lembram Mandalas do Hinduismo ou mesmo Fórmulas Cabalisticas da Real Arte
Simbólica e Mística Hebraica entre outras práticas de Ocultismo e Hermetismo.
Entre os elementos mais utilizados podemos identificar velas, água, óleo,
pedras, essências, fumo, ervas, tecidos, ponteiros e a citada pemba (giz
utilizado para traçar símbolos),
dentro de um ambiente de terreiro, mágico-religioso por natureza. Nos métodos
se observam rezas, orações, preces, evocações, invocações, determinações e
fórmulas mágico-religiosas associadas a banhos, defumações, oferendas e outros.
Todos estes recursos estão mais
ou menos associados ao “Passe Umbandista”, no qual se cria um ambiente de Som,
Cores, Aromas e Luzes, capaz de inebriar de forma positiva todos os cinco
sentidos do consulente a fim de conduzi-lo a certo estado de consciência
desejado.
Durante o “Passe Umbandista”
observamos a entidade espiritual fazer a imposição de mãos, segurar velas
direcionadas aos chakras ou traçando movimentos no ar, colocam colares (guias)
no pescoço do consulente ou o colocam dentro da mesma em circulo no chão.
Atiram ponteiros em pontos riscados, fazem gestos rituais e movimentos com os
pés e mãos que nos faz crer na “Magia Gestual”. Em meio a tantos recursos, que
nos encantam e fascinam, nos chama a atenção, em especial, o estalar de
dedos, bem característico em quase todas as linhas de trabalho. Muitas
pesquisas e especulações já foram realizadas sobre esta prática, entre elas são
identificadas as energias que existem na ponta de cada um dos dedos da mão, que
são pequenos chakras ou vórtices de energia (“chacrinhas”), e, o “choque”
vibratório desencadeado no ar quando o dedo médio estala sobre a região da mão
chamada de “monte de Vênus”, causando vibração astral e sonora o que desperta
certa energia dentro do campo em que está atuando. Este “Estalar de Energias”
pode assumir contextos vaiados de acordo com o que esteja associado, por meio
do pensamento ou movimentos. Além deste contexto pode-se usar o estalar de
dedos como um simples gesto de descarregar as energias absorvidas pelas palmas
das mãos. Um caboclo ou outro espírito guia eleva sua mão ao alto (ou ao lado)
buscando certa energia que será irradiada ao consulente, num movimento rápido,
ao mesmo tempo em que transmite esta energia positiva, retira os eflúvios
negativos e os “descarrega” com um estalar de dedos. Os movimentos
longitudinais, transversais e circulares também foram descritos na obra de
Edgard Armond, em que: Os passes longitudinais movimentam os fluidos, os
transversais os dispersam e os circulares e as imposições de mãos os
concentram, o mesmo sucedendo com o sopro quente. Este último
merecendo ainda um estudo à parte.
No entanto pode-se associar
procedimentos mais ou menos magísticos com os mesmos, ou seja, a relação entre
estalos e números com o poder de realização que cada um deles possui,
aplicando-se seqüências de estalos que podem variar, por exemplo, de
2x3,3x3,4x3 ou ainda estalos que desenham formas geométricas no ar. Lembrando
que a aplicação de símbolos associados a idéias e intenções, com suas
respectivas invocações é a mais explicita “magia simbólica”, encontrada nas
mais variadas culturas. Assim seqüências de estalos “desenham” no ar, cruzes,
estrelas e círculos; firmando ou estabelecendo pontos e espaços vibratórios,
aos quais podem ter função nesta realidade ou abrir portais para outras
realidades.
Muito mais
poderíamos escrever sobre o “Passe Umbandista” e seus recursos, no entanto não
pretendemos em um único artigo esgotar o que é inesgotável. Fica aqui um
comentário final sobre a importância do estudo, não para complicar o que é
realizado de forma tão simples por nossos guias de Umbanda, mas com a
finalidade de compreendermos o que eles realizam, com a consciência de que eles
sim estudam e estudaram muito para realizar este trabalho espiritual. Não
estudamos por um movimento do Ego ou para substituir a presença dos mesmos, mas
para lhes oferecer maiores recursos psíquicos, espirituais e materiais.
Estudamos para ver o quanto somos ainda “neófitos” (aprendizes) nesta senda, em
que Caboclo (a), Preto Velho (a), Baiano (a), Boiadeiro (a), Marinheiro (a),
Cigano (a), Exu e Pomba Gira são nossos Mestres.
A vida espiritual tem toda uma nuance com a vida material, se interdependem para que possamos atingir nossas metas nesse plano Divino da magia, magistica espiritual. Com o Axé Divino, com a vida linda que vivemos na fraternidade.
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