Por Pablo Araújo "Me perguntaram: qual é sua religião? respondi: sou Umbandista. Me perguntaram: de qual vertente? E eu respondi: hã não entendi? E continuei..."
Ora, eu sou Umbandista, da Umbanda fundada por Pai Zélio Fernandinho de Moraes através do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Me afirmaram: ah mas, incorporação de Caboclo e pretos velho já existia antes do Zélio fundar a Umbanda.
Respondi: a incorporação de índio e de antigos sacerdotes africanos sim existiam, como de outros espíritos que tinham no seu par encarnado o dom mediúnico de incorporação, sabemos que esse dom não é exclusivo de uma denominação religiosa e já existe desde que o tempo é tempo. Porém, Caboclo e Preto-velho são graus religiosos e patente espiritual ou seja, linhas de trabalhos, portanto vinculadas a uma via evolucionista denominada religião de Umbanda. A manifestação livre de espíritos seja qual for sua etnia, sempre existiu, porém uma via religiosa que agregasse espíritos sobre seu manto protetor ordenando essas manifestações, ah esse só veio com o advento e surgimento da Umbanda, que nasceu de uma necessidade de espíritos que já cultuavam e adoravam Deus através do culto a natureza e que em espírito não encontravam uma via religiosa na qual pudessem servir Deus inspirando através do dom da incorporação seus pares mediúnicos que se encontravam encarnados.
A maioria desses espíritos eram de etnia índígena e africana, devido a extinção das religiões tidas como naturalistas que se voltavam a Deus na forma do culto a natureza e suas divindades amparadoras dos seres.
Espíritos e mais espíritos oriundos dessa tradição natural de se voltar a Deus desencarnavam e não tinha uma forma espiritual e religiosa de continuarem a servirem Deus com aquilo que tinham de melhor. Encontravam barreira no espiritismo kardecista que os viam como espíritos atrasados. No culto de nação africana da época também eram tidos como eguns que não acrescentava nada na religião, pois o culto é voltado exclusivamente para o Orixá.
Sendo assim, o criador de tudo e de todos sempre que há uma necessidade de alterar um estado de consciência, inspira espíritos elevados para que abram uma via evolucionista (religião) para que seja suprida as necessidades de espíritos encarnados e desencarnados para que viva sua espiritualidade e religiosidade de forma luminosa, sendo um novo caminho de retorno ao Pai.
Sendo assim o dom de incorporar espíritos sempre existiu, porém de uma forma ordenada e codificada só uma instituição religiosa criada primeiro na espiritualidade e depois fundada no plano material é capaz de realizar.
Sendo assim. Caboclo e preto-velho são graus espirituais que passaram a existir na Umbanda assim que a mesma foi fundada. Unicamente lembrando que a incorporação de índios e negros já existiam, o que é diferente de Caboclo e preto-velho que são graus espirituais que arregimentam espíritos de todas as vertentes espirituais que já adoravam Deus através da natureza (água, rios, lagos, matas etc.) a Umbanda é pluralista desde seu nascedouro, pois a ordem do fundador da Umbanda ( Caboclo das sete encruzilhadas) foi "com os espíritos mais evoluídos aprenderemos, ao menos evoluídos ensinaremos e a nenhum encarnados ou desencarnados renegaremos"
E todos os espíritos, não importando sua etnia e cultura em uma outra encarnação, seriam acolhidos e agregados aos graus de Caboclo e Preto-Velho que são patentes religiosas e via evolucionista de retorno ao Pai, onde se agregam a esses e a outros graus e linhas evolucionistas de Umbanda e passam a servir Deus não mais com seus nomes e identidades pessoais, mais sim com nomes e graus divinos onde se reintegraram e, reintegrados servem Deus e os Orixás suas divindades naturais, abandonando sua identidade pessoal e se integrando a uma corrente coletiva, onde não há destaques e todos se manifestam através do mesmo grau, simbolizando assim a igualdade perante Deus.
Entendemos que a Umbanda é sim uma religião pluralista, porém não há uma "umbanda" melhor que outra. O que há é uma forma peculiar de culto inspirada pelo mentor espiritual de um templo que traz conhecimentos antigos que sedimentaram sua evolução e os aplica dentro do seu templo de Umbanda. É só isso!
Na minha forma de enxergar as coisas, ver de uma outra forma seria o mesmo que criar uma religião dentro de outra religião. Cada templo religioso traz em si sua própria dinâmica e formas de trabalho, visto a ascendência do mentor de frente do sacerdote e a regência do Orixá de cabeça do mesmo, pois a Umbanda é o ritual do culto à natureza, tanto a natureza externa e terrestre, como a natureza íntima que herdamos de Deus através dos Orixás.
É visível a diferença existente na condução de um trabalho espiritual de Umbanda regido por um filho ou filha de Iansã e a condução de um trabalho por um filho ou filha de Iemanjá.
Cada divindade traz sua natureza individual manifestadora das qualidades de Deus e assim o último elo dessa corrente espiritual (nós) também trazemos uma natureza pessoal em acordo e afim com a natureza da divindade no qual fomos imantados. Ainda trazemos as influência dos nossos guias espirituais que trazem um conhecimento espiritual peculiar das religiões já vivenciadas por ele e que muito contribui com os atendimentos mediúnicos e magísticos.
Confundir isso com novas "vertentes" de Umbanda, na minha pessoal opinião é no mínimo dividir ou segregar o corpo religioso instituído como religião de Umbanda. Se o seu guia ou mentor em outra encarnação vivenciou sua religiosidade com intensidade em um culto tradicional de nação africana, é normal que ele abra determinados conhecimentos que ele é detentor e que é muito válido na ajuda do próximo em seu atendimento magístico-espiritual, porém fundar uma denominação umbandista dentro da Umbanda só porque você traz em si essa origem espiritual é dividir o que é para ser uno.
Se o seu mentor traz sua última vivência religiosa oriunda do hinduísmo e que manifesta em seu trabalho magístico-espiritual um conhecimento amparador das pessoas, ótimo isso é válido, porém abrir uma nova vertente dentro da Umbanda é torna-la frágil enquanto religião.
O pluralismo e liberdade de culto dentro da Umbanda é legítimo e visto com bons olhos, porém "vertentes" ou "denominações" individualiza o que é e deve ser coletivo. Não queremos ver nossa religião tão nova e em franco crescimento e fundamentação, como as denominações neo-pentencostais que se digladiam umas contra as outras dizendo: aqui está a mão de Deus, outra dizendo é só aqui que é possível a realização de verdadeiros milagres, etc. A religião que começa a se dividir também começa a enfraquecer.
Se trazemos um guia Preto-velho em que em sua última encarnação vivenciou o culto puro de nação e ele que é mentor de um templo, recomenda que ali deverá trabalhar com o chão coberto de folhas e que toda iniciação deverá ser feita com o recolhimento do filho de santo que vai ser iniciado, isso não quer dizer que este seja um terreiro de "umbandomblé" e sim que é um terreiro de Umbanda que toca seu trabalho de uma forma mais tradicional devido a influência e formação religiosa do mentor espiritual dessa casa. Entendendo isso, o terreiro de Umbanda continua sendo de Umbanda e ponto final.
(Relembrando uma conversa com o mestre Rubens Saraceni, lembro que ele me disse: Pablo, quando eu nasci já existia a Umbanda e eu como você aprendi essa mesma Umbanda fundada pelo pai Zélio, eu não fundei uma Umbanda sagrada, pois a Umbanda como qualquer outra religião é sagrada e sempre que nos voltamos a Deus, nos voltamos ao lado sagrado da criação e toda religião reflete o lado sagrado de Deus, porém devido ao título dos livros de estudo de Umbanda psicografados por mim trazerem essa nomenclatura Umbanda Sagrada, os "rotulistas de plantão" criaram e me rotularam como um criador de uma vertente nova "Umbanda Sagrada" e como fama é algo que pega e não adianta esforços para negar essa fama e de tanto cansar de explicar deixei as coisas tomarem as proporções por sí só, tal como foi com o livro Código de Umbanda que embasado no título já me rotularam como codificador da Umbanda e outras coisas mais. O que eu fiz foi dar vazão a todo um fluxo de conhecimentos novos dentro da Umbanda através dos mestres que junto de mim traziam essa missão, e só isso. Uma nova vertente, Isso não foi criado por mim e sim pelas mentes "férteis" e rotuladoras).
Sendo assim contínuo com minha resposta: Sou Umbandista e isso já basta!
Mais pluralidade sim, pois a nossa religião se destaca de forma ímpar por ser exatamente como ela é, plural, porém isso na minha particular opinião, menos umbandas dentro da Umbanda, pois a Umbanda é: tradicional, renovada, Sagrada, branca, de pé no chão, de mesa, pura, mesclada, cruzada, de demanda, de nação, cristã, natural, etc. A Umbanda é tudo isso em sí e nós somos isso no particular, o problema está em fundamentar o relativo (particular) como sendo absoluto (coletivo).
Sendo assim ainda contínuo com minha resposta: Sou só Umbandista e só isso já basta! E você?