“A
um médium é solicitado que conheça o mínimo indispensável para que possa
realizar as práticas de Umbanda e seus rituais. Também é exigido que estude um
pouco, porque só assim, entenderá tudo o que acontece dentro de um templo de
Umbanda durante a realização das giras de trabalho.” Rubens Saraceni1
Jornal de Umbanda/SP-15/11/2010-Ed.01/AlexandreCumino
A
palavra “passe” tem origem no Espiritismo, codificado por Allan Kardec, e traz
a idéia de “passar” ou “transmitir” algo a alguém. A doutrina codificada por
Kardec tem base cristã e encontra no Evangelho as muitas passagens em que Jesus
cura as pessoas e “expulsa” espíritos indesejados por meio da imposição de
mãos. Algo que vamos encontrar em muitas outras culturas como a egípcia, a
grega, a celta, a chinesa, a indiana ou em tradições indígenas e xamãnicas.
Estudiosos do passado e do presente se debruçam sobre os fundamentos
científicos das técnicas de “passe magnético”, desde Hermes Trimegistro, Fo-Hi,
Asclépio, Pitágoras, Hipócrates, Paracelso, Van Helmont, Mesmer, Du Potet e
outros.
Na
obra de Allan Kardec vamos encontrar (A Gênese, Cap. XIV, 1:14, 15 e 18) a
descrição dos “Fluidos” e sua manipulação:
Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não os
manipulando como os homens manipulam os gases, mas por meio do pensamento e da
vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para os
homens...
Pode-se dizer, sem receio de errar, que há nesses fluidos, ondas
e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios
sonoros...
O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais como
o dos desencarnados; transmite-se de Espírito a Espírito pelo mesmo veículo, e,
conforme sua boa ou má qualidade, saneia ou vicia os fluidos circundantes...
No “Passe
Espírita” o médium manipula estes fluidos por meio de técnicas que foram se
desenvolvendo com o tempo. Aqui no Brasil devemos, principalmente, a Bezerra de
Menezes e Edgard Armond, o método já consagrado e largamente utilizado em boa
parte dos “Centros Espíritas”. A padronização
dos passes e outras práticas doutrinárias... foram providências adotadas na Federação Espírita dos Estado de São Paulo
para efetivar a unidade das práticas espíritas, assunto de alta relevância,
levado ao Congresso de Unificação realizado em 1947 nesta Capital. Estas
são as palavras que “prefaciam” o título Passes
e Radiações: Métodos Espíritas de Cura de
autoria de Edgard Armond, 1950. Podemos dizer que o conteúdo deste livro
norteou e norteia até hoje o método e técnicas utilizadas no Espiritismo
Brasileiro, em que o “Passe Magnético” subdivide-se por categorias como P1, P2,
P3, P4. Além do Passe de Limpeza e da Auto Cura. A realização destes passes é
feita por qualquer pessoa de boa vontade que tenha estudado o método, para
algumas situações, no entanto é necessário certa sensibilidade ou Don
mediúnico. A maioria dos métodos é explicada por uma corrente de
energia/magnetismo e fluidos que estabelecem um circuito de forças entre
“operador passista” e consulente (assistido). Dentro do processo são definidos
alguns conceitos como a polaridade das mãos (direita = positiva,
esquerda = negativa)
e os centros de força, denominados de chacras por influência oriental, assim
como a importância de um conhecimento básico sobre a fisiologia do corpo
material e espiritual.
1 Rubens Saraceni. Código de Umbanda. São Paulo: Ed. Madras, 2006. P.79
1 Rubens Saraceni. Código de Umbanda. São Paulo: Ed. Madras, 2006. P.79
“Quando o Espírito é de elevada
categoria, possui grande poder curativo, muito diferente e muito melhor que o
que possui o magnetizador encarnado.” Edgard
Armond2
O “Passe
Umbandista” não é apenas um “passe magnético” ou material e sim um “Passe
Espiritual”, aplicado por um espírito. Assim como Edgard Armond classificou
diferentes métodos de aplicação do Passe Magnético para diferentes
necessidades, também os espíritos que se manifestam na Umbanda aplicam métodos
variados de acordo com a necessidade de cada consulente, dentro dos variados
recursos que cada espírito guia entidade/mentor, possui. Sem esquecer que cada
um recebe na medida de seu merecimento e afinidade, podendo um encarnado
bloquear uma ação positiva direcionada a ele mesmo como conseqüência de sua
postura mental. Pois muitos merecem, mas não estão abertos emocionalmente ou
psicologicamente para receber o que a espiritualidade lhe oferece, por vários
motivos como descrença, irritação, mentalidade critica e posturas interesseiras
desfocadas de um objetivo espiritual.
O
“Passe Umbandista”, para além de “Passe Espiritual”, pode ser definido como a
aplicação de um conjunto de técnicas mágico-religiosas, além de explorar todos
os recursos possíveis de imposição de mãos, utiliza elementos e técnicas
variadas e até inusitadas.
“Porém,
enquanto nos centros espíritas usa-se o passe magnético, nos centros de Umbanda
também se recorre aos passes energéticos, quando são usados diversos materiais
(fumo, água, ervas, pedras ou colares, etc.) que descarregam os acúmulos
negativos alojados nesses campos eletro-magnéticos... Nem sempre o que parece
folclore ou exibicionismo realmente o é. Se os mentores dos médiuns de Umbanda
exigem determinados colares de pedras, eles sabem para que servem e dominam seu
magnetismo, assim como as energias minerais cristalinas irradiadas pelas
pedras. Ervas e fumo, quando potencializadas com energias etéreas pelos
mentores, também se tornam poderosos limpadores de campos eletromagnéticos.”3
A
finalidade é de alcançar maior êxito de acordo com as necessidades, o
merecimento e os recursos disponíveis. Cada entidade tem a liberdade de aplicar
a técnica que lhe aprouver, desde que dentro dos limites de ética, bom senso e
respeito. Embora haja um conjunto de métodos e recursos característicos da
Umbanda. Muitas entidades, em especial os pretos velhos, por exemplo, realizam
o benzimento, que se distingue do “Passe Magnético”, por empregar uma ação mais
relacionada ao poder do verbo, elementos e simbologia, considerada “Magia
Popular”.
Também é possível
identificar métodos complexos de Magia Riscada (Magia de Pemba), abrindo
espaços mágicos (Pontos Riscados) que muitas vezes lembram Mandalas do
Hinduismo ou mesmo Fórmulas Cabalisticas da Real Arte Simbólica e Mística
Hebraica entre outras práticas de Ocultismo e Hermetismo. Entre os elementos
mais utilizados podemos identificar velas, água, óleo, pedras, essências, fumo,
ervas, tecidos, ponteiros e a citada pemba (giz utilizado para traçar
símbolos), dentro de
um ambiente de terreiro, mágico-religioso por natureza. Nos métodos se observam
rezas, orações, preces, evocações, invocações, determinações e fórmulas
mágico-religiosas associadas a banhos, defumações, oferendas e outros.
Todos
estes recursos estão mais ou menos associados ao “Passe Umbandista”, no qual se
cria um ambiente de Som, Cores, Aromas e Luzes, capaz de inebriar de forma
positiva todos os cinco sentidos do consulente a fim de conduzi-lo a certo
estado de consciência desejado.
Durante
o “Passe Umbandista” observamos a entidade espiritual fazer a imposição de
mãos, segurar velas direcionadas aos chakras ou traçando movimentos no ar,
colocam colares (guias) no pescoço do consulente ou o colocam dentro da mesma
em circulo no chão. Atiram ponteiros em pontos riscados, fazem gestos rituais e
movimentos com os pés e mãos que nos faz crer na “Magia Gestual”. Em meio a
tantos recursos, que nos encantam e fascinam, nos chama a atenção, em especial,
o estalar de dedos, bem característico em quase todas as linhas de
trabalho. Muitas pesquisas e especulações já foram realizadas sobre esta
prática, entre elas são identificadas as energias que existem na ponta de cada
um dos dedos da mão, que são pequenos chakras ou vórtices de energia
(“chacrinhas”), e, o “choque” vibratório desencadeado no ar quando o dedo médio
estala sobre a região da mão chamada de “monte de Vênus”, causando vibração
astral e sonora o que desperta certa energia dentro do campo em que está
atuando. Este “Estalar de Energias” pode assumir contextos variados de acordo
com o que esteja associado, por meio do pensamento ou movimentos. Além deste
contexto pode-se usar o estalar de dedos como um simples gesto de descarregar
as energias absorvidas pelas palmas das mãos. Um caboclo ou outro espírito guia
eleva sua mão ao alto (ou ao lado) buscando certa energia que será irradiada ao
consulente, num movimento rápido, ao mesmo tempo em que transmite esta energia
positiva, retira os eflúvios negativos e os “descarrega” com um estalar de
dedos. Os movimentos longitudinais, transversais e circulares também foram
descritos na obra de Edgard Armond, em que: Os
passes longitudinais movimentam os fluidos, os transversais os dispersam e os circulares e as imposições de mãos os
concentram, o mesmo sucedendo com o sopro quente. Este
último merecendo ainda um estudo à parte.
No
entanto pode-se associar procedimentos mais ou menos magísticos com os mesmos,
ou seja, a relação entre estalos e números com o poder de realização que cada
um deles possui, aplicando-se seqüências de estalos que podem variar, por
exemplo, de 2x3,3x3,4x3 ou ainda estalos que desenham formas geométricas no ar.
Lembrando que a aplicação de símbolos associados a idéias e intenções, com suas
respectivas invocações é a mais explicita “magia simbólica”, encontrada nas
mais variadas culturas. Assim seqüências de estalos “desenham” no ar, cruzes,
estrelas e círculos; firmando ou estabelecendo pontos e espaços vibratórios,
aos quais podem ter função nesta realidade ou abrir portais para outras
realidades.
Muito
mais poderíamos escrever sobre o “Passe Umbandista” e seus recursos, no entanto
não pretendemos em um único artigo esgotar o que é inesgotável. Fica aqui um
comentário final sobre a importância do estudo, não para complicar o que é
realizado de forma tão simples por nossos guias de Umbanda, mas com a
finalidade de compreendermos o que eles realizam, com a consciência de que eles
sim estudam e estudaram muito para realizar este trabalho espiritual. Não
estudamos por um movimento do Ego ou para substituir a presença dos mesmos, mas
para lhes oferecer maiores recursos psíquicos, espirituais e materiais.
Estudamos para ver o quanto somos ainda “neófitos” (aprendizes) nesta senda, em
que Caboclo (a), Preto Velho (a), Baiano (a), Boiadeiro (a), Marinheiro (a),
Cigano (a), Exu e Pomba Gira são nossos Mestres.
2 Edgard Armond. Passes e Radiações: Métodos Espíritas de Cura. São Paulo: Ed. Aliança, 1997. P. 85
3 Rubens Saraceni. Código de Umbanda. São Paulo: Ed. Madras, 2006. P. 101