quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

EXU: Executor da Lei Maior

Fonte: Colégio de Umbanda Pena Branca


Na Umbanda, os Exus compõem uma Linha de Trabalho à Esquerda. São espíritos humanos que tiveram várias encarnações, cometendo erros e acertos, como todo ser humano, mas com um diferencial: se conscientizaram e retomaram o caminho da Lei Divina, obtendo permissão para se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem no auxílio à nossa evolução.

Os Exus atuam como Guardiões da Lei Maior. Absorvem e esgotam as negatividades dos seres que se desviaram das Leis do Criador, em qualquer dos Sete Sentidos da Vida; depois, vitalizam as qualidades positivas deles e então os neutralizam, deixando seus magnetismos aptos a que retomem o caminho da evolução.

Todas as Linhas da Umbanda são amparadas por um Mistério Divino e por um Orixá. Exemplos: os Caboclos manifestam o Mistério Caboclo, sustentado por Pai Oxóssi; Os Pretos-Velhos manifestam o Mistério Ancião, sustentado pelos Orixás Obaluayê e Nanã. O mesmo acontece com os Exus.

O Orixá que dá sustentação ao Mistério Exu e às Entidades Exus é o Orixá Exu. Na Umbanda, este Orixá não é cultuado diretamente. Mas está presente e atuante, pois as Divindades existem e estão presentes em nossas vidas, ainda que alguém não as reconheça. Por exemplo: quer se reconheça ou não que Oxalá e Oxum são Orixás, Eles continuam existindo e atuando na Criação. O mesmo acontece em relação aos demais Orixás, inclusive ao Orixá Exu.

O Orixá Exu recebeu na Umbanda uma Linha à Esquerda, na qual se apresentam os espíritos Exus, que recebem este nome porque trabalham na Força, no Poder e no Mistério do Orixá Exu e o manifestam entre nós quando dão consultas, passes, fazem descarregos, cortam magias negativas etc. Quando uma Entidade trabalha na Força, no Poder e no Mistério de determinado Orixá, então as Qualidades desse Orixá se manifestam por meio dela.

Os Exus recebem oferendas nos respectivos campos de atuação: matas, rios, lagoas, à beira-mar, cemitérios, caminhos, encruzilhadas, pedreiras etc. Existem Exus trabalhando na Irradiação de todos os Orixás e os seus nomes simbólicos indicam o campo de ação de cada um e onde deve ser oferendado. Exemplos: Exu das Matas- Irradiação de Pai Oxóssi- recebe oferenda nas matas; Exu Caveira- Irradiação de Pai Omolu- recebe oferenda no cemitério, num ponto à esquerda no Cruzeiro; Exu do Lago- Irradiação de Mãe Nanã- recebe oferenda nos lagos e lagoas; Exu Porteira- Irradiação de Pai Obaluayê (porteira é portal, é passagem)- recebe oferenda à direita do Cruzeiro do cemitério; Exu do Mar- Irradiação de Mãe Yemanjá- recebe oferenda à beira-mar; etc.

A origem do Orixá Exu enquanto Divindade está em Deus. Todas as Divindades provêm de Deus. Mas em termos culturais, sabemos que o culto de Orixás vem da África, especificamente dos povos Nagôs, de língua Iorubá. Logo, a origem cultural do Orixá Exu também é Nagô-Iorubá.

Na África, o culto ao Orixá Exu é ancestral e milenar. Curiosamente, aparece em todas as regiões daquele continente, de forma que não há como saber em qual região africana esse culto começou. Ao contrário dos demais Orixás, que eram cultuados nessa ou naquela região (daí o nome Culto de Nação), o Orixá Exu aparece em todas as regiões da África. Dentro da visão umbandista, isto tem uma razão de ser. Os Exus que trabalham na Umbanda atuam nos Sete Sentidos da Vida, ou seja, atuam nos campos de todos os Orixás. E dizemos: Exu é o dono das encruzilhadas, o que é fato.

Mas o que é uma encruzilhada?

Encruzilhada é o encontro de duas realidades, de duas verdades diferentes, tais como: matéria/astral; razão/emoção; luz/trevas; ou, literalmente, pode ser o encontro de dois caminhos. Esta é a representação do ponto de força de Exu. Exu está em todos os caminhos, em todos os lugares e passagens, e não apenas na encruzilhada de rua, de terra, ou de mata. Todos os pontos que marcam a entrada e a saída de uma realidade são pontos de firmeza e de manifestação de Exu.

Outra maneira, talvez, de se entender isso é lembrar que Exu é Guardião da Lei Maior e que trabalha na Lei e pela Lei regida por Pai Ogum, o Senhor de todos os Caminhos.

Na África não se cultuava a Entidade Exu, como ocorre na Umbanda. Lá, Exu é um Orixá “mensageiro” que leva os pedidos das pessoas aos outros Orixás e traz as respostas; é a grande “boca” pela qual os outros Orixás falam com os homens; é o primeiro a receber oferendas, a ser servido e despachado, para recolher as negatividades e levar embora os problemas e perturbações. Tem culto e oferendas específicos e também seus sacerdotes (os “Omo-Exu” = filhos de Exu), que o tratam com o mesmo respeito dedicado aos demais Orixás. É respeitado como Orixá, e não como espírito.

Já na Umbanda não é comum o culto ao Orixá Exu e Sua presença entre nós se faz por intermédio das Entidades Exus, que são os manifestadores do Seu Mistério.

Existem aspectos na atuação de Exu que nem sempre são bem interpretados:

Exu lida com aspectos positivos e negativos da Criação. Exu rege sobre a dualidade; o que acarreta uma dificuldade na compreensão do Mistério Exu.

Pois Exu atua no Alto, no Embaixo, na Direita e na Esquerda, guardando e mantendo a Lei e a Ordem na Criação. No Embaixo, é bom lembrar que Exu é quem leva Luz às trevas; um Exu de Umbanda NÃO é “das” trevas!

Exu é ativo, mas também passivo e neutro. Exu guarda a quem faz por merecer o amparo da Lei Divina (atuação passiva). Mas também intervém como Executor da Lei contra quem viola as Leis do Criador, para esgotar suas negatividades (atuação ativa). Quando elas forem esgotadas, Exu vitaliza as qualidades positivas do ser (atuação ativa), para então neutralizar-lhe o magnetismo. A partir daí, aquele ser tem como recomeçar o trabalho evolutivo que a cada um compete.

Exu não ataca a ninguém. Exu só intervém por um comando da Lei Maior, ou quando é ativado magisticamente. Nos trabalhos religiosos de Umbanda, também a atuação de Exu é sempre delimitada pela Lei Divina, é sempre para o Bem.

Pela sua dualidade, o Mistério Exu é muitas vezes interpretado de forma negativa.

A interpretação negativa (“demonização”) do Mistério Exu é antiga. Remonta à época da colonização das Américas, quando os europeus iam à África para comprar escravos e lá encontraram uma cultura muito diferente da sua, passando a interpretá-la com base em seus próprios valores e crenças.

E a primeira demonização de Exu foi feita principalmente pelos Padres católicos, conforme relatos registrados por Pierre Verger nos seus livros “Orixás” (Editora Currupio) e “Notas sobre o Culto de Orixás e Voduns” (Editora Edusp). Para a Igreja Católica da época (séculos XIV a XVII), nenhuma religião, além do Catolicismo, era válida. As outras religiões “não eram de Deus”; logo, suas Divindades também “não eram de Deus”, então só poderiam ser “demônios”...

Para o modelo judaico-cristão do que é religião e do que é o Sagrado, era muito difícil compreender aquela cultura na qual as pessoas não usavam roupas, o sexo não era considerado profano, não existia pecado original, os órgãos sexuais não tinham de ser escondidos etc.; e onde o Orixá Exu representava, entre outras coisas, a virilidade masculina, tendo como um de seus símbolos o órgão sexual masculino.

Além disso, na cultura Africana as lendas mostram Exu com um comportamento muito próximo do nosso: ora alegre, ora nervoso, irreverente, irrequieto; ora protegendo as pessoas nas guerras e lutas, ora fazendo emboscadas etc. Exu é mostrado como o mais “humano” dos Orixás; e o símbolo fálico representava a virilidade, a força masculina, o poder e o Mistério do Orixá Exu, a vitalidade ou vigor que é preciso para se fazer as coisas, não tendo conotação sexual e muito menos “pecaminosa”. Mas para a Igreja Católica da época o sexo era algo pecaminoso, o corpo humano deveria ser coberto etc.; e, portanto, Exu só poderia ser “um demônio”...

O Orixá Exu é uma Divindade de Deus. Logo, NÃO é perigoso, vingativo ou coisa semelhante. Enquanto Divindade de Deus, quando nos relacionamos com Ele de forma bem intencionada o que resulta é uma ação positiva, sempre. Só temos de tomar cuidado se estivermos mal intencionados, pretendendo prejudicar alguém, achando que podemos “manipular” um Mistério de Deus! Alguém pensaria em ativar de forma negativa o Orixá Oxalá? Ou Oxum? Ou Yemanjá; etc.? Ou em fazer isso com seus Caboclos, Pretos Velhos, Crianças e demais Linhas de Trabalho? Claro que não! Pois com o Orixá Exu e as Entidades Exus acontece a mesma coisa!

Podemos nos relacionar com o Orixá Exu, acender uma vela e pedir ajuda numa determinada situação, oferecer flores e ervas etc., pois se trata de uma Divindade de Deus.

O local correto para se firmar velas para Exu é separado de onde acendemos velas para os 14 Orixás, porque a função destes últimos é irradiar, enquanto a de Exu é absorver.

Fazemos firmezas para Exu (Orixá ou Entidade) no quintal, na varanda, na lavanderia, ou seja, em locais externos. Por quê? Porque o Orixá Exu e as Entidades Exus guardam “o lado de fora” da Criação, cercam a Criação para protegê-la. Quando estamos em nossa casa, ela de certo modo representa o nosso corpo, é um abrigo que precisa ser guardado “por fora”, para impedir que algo externo nos atinja. No Terreiro acontece o mesmo; assim como em qualquer ambiente que estejamos. E o Orixá Exu, por intermédio das Entidades Exus, faz esse papel de Guardião da Lei Divina, para refrear ataques negativos injustos. Não se firma Exu junto com os 14 Orixás e as Entidades da Direita por este motivo; e não porque Exu “não possa estar no mesmo ambiente”. A questão envolve unicamente as funções específicas de cada Orixá e Linha.

Por qual motivo Exu é o primeiro a receber oferendas?

Nos livros “Lendas da Criação” e “Orixá Exu”, ambos de Rubens Saraceni, pela Editora Madras, encontramos uma explicação do porquê de Exu ser o primeiro a receber oferendas:

Vamos imaginar um momento anterior à Criação.

No Princípio, a Idéia da Criação existia apenas “no íntimo” do Criador. (Ou, como está na Bíblia: “No Princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.) Deus ainda não havia “exteriorizado” a Criação. Tudo existia apenas no Íntimo do Criador. Em torno da morada interior do Criador só existia “o Vazio”.

Então, desde o Princípio, esse “Vazio” cerca e protege toda a Criação. E Exu é o Orixá Regente do Vazio. Tudo quanto seria construído por Olorum iria ocupar esse Vazio e dependeria da concordância de Exu. Então, os Orixás deram a primazia a Exu, pois do contrário nada poderiam construir.

Num segundo momento, e para receber a Criação que Olorum iria exteriorizar, foi criado o Espaço, este regido por Oxalá, o Senhor das Formas. E Oxalá só pôde criar o Espaço com a concordância de Exu, pois o Espaço foi criado em cima dos domínios de Exu.

Só depois da criação do Espaço por Oxalá, em cima do Vazio de Exu, é que tudo pôde ser criado, inclusive a humanidade. E é por isso que Exu deve ser o primeiro a receber oferendas.

Não importa quem foi o primeiro Orixá a ser criado, porque todos são atemporais e pré-existiam em Olorum. Mas o Vazio é anterior a tudo.

Exu guarda e protege tudo o que cerca a Criação. Quem não respeita os seus domínios não respeita o Sagrado. E para entrar no Sagrado, primeiro passamos por Exu. Daí que Exu é o primeiro a receber oferendas. Este é o significado.

Outras atuações de Exu

O Orixá Exu também rege sobre o mistério relativo à reprodução, ao órgão genital masculino e ao vigor sexual. Uma das suas representações é um cetro fálico, simbolizando o vigor e a vitalidade de que necessitamos em todos os campos e sentidos, e não apenas no campo sexual.

Outro dos mistérios de Exu são as cabaças, que simbolizam o útero e o poder procriador feminino. Exu rege o Mistério da sexualidade masculina e guarda o Mistério da sexualidade feminina.

Os seres Exu de natureza Divina têm suas hierarquias de seres Exu Naturais e estes, por sua vez, têm suas hierarquias de seres espirituais “exunizados”.

Os espíritos “exunizados” são aqueles que desenvolveram no seu íntimo uma afinidade com o Mistério Exu e nele se iniciaram, tornando-se seus manifestadores espirituais; ou são os que se negativaram a tal ponto, que foram tragados pelo Vazio de Exu, quando perderam o direito à Plenitude de Oxalá.

O arquétipo de Exu

Quando incorporam, os Exus são alegres, falantes, galhofeiros, sarcásticos, irônicos. Tudo isso faz parte do arquétipo marcante que assumiram na Umbanda.

Sempre estão dispostos a ajudar a quem os procura.

Manipulam bebidas e um bom charuto, além de serem servidos com farofas apimentadas com carnes ou miúdos de frangos.

São espíritos “bem terra” e atuam com grande poder de realização nos casos de magias negativas, de relacionamentos e de assuntos profissionais.

Seus nomes variam desde nomes dados a pessoas (exemplo: João Caveira) até nomes indígenas (exemplos: Marabá, Jibóia, Arranca-Toco, Marambaia, Cipó, Folha Seca etc.).

Exu e o médium

Cada médium tem um Exu Guardião e um Exu de Trabalho.

O Exu Guardião é ligado ao Orixá Ancestral do médium e o Exu de Trabalho é ligado ao seu Orixá Adjunto, ao Guia Chefe ou ao Mentor dos seus trabalhos.

Médiuns mal orientados ou mal doutrinados dão vazão aos seus recalques ou sentimentos íntimos negativos. Neste caso, o seu Exu torna-se grosseiro, chulo, desrespeitoso, revelando o íntimo do médium. Já com médiuns bem doutrinados e preparados, Exu “continua sendo Exu”, mas se apresenta de uma forma agradável e respeitosa.

Exu mostra o íntimo do médium, como se fosse um espelho, e por isso se diz que Exu é especular.

No campo da Física, a “reflexão especular” ocorre quando a luz incide sobre uma superfície bastante polida (lisa), sendo que a imagem refletida tem forma igual à do original. Um espelho é uma superfície muito lisa e permite alto índice de reflexão da luz que incide sobre ele, de modo que reflete imagens com muita nitidez.

No caso Exu/médium, Exu é “o espelho” que mostra a imagem do que está escondido no íntimo do médium desequilibrado, para que este possa ser alertado e venha a corrigir-se. E, nesse processo, Exu é também “a Luz Divina incidindo”, para viabilizar o trabalho de correção dos sentimentos e comportamentos humanos negativos. Afinal, Exu leva a Luz às Trevas, principalmente às nossas trevas interiores!...

Saudação para o Orixá Exu: LAROYÊ, EXU! EXU MODJUBÁ! (alguns dizem: Exu Mojubá).

Na Umbanda, esta saudação (que é feita para o Orixá Exu) se tornou a saudação para a Entidade Exu (e também para Pombagira e Exu Mirim).

Tudo o que se refere ao Orixá Exu também serve para a Entidade Exu. Daí a importância de se estudar o Orixá Exu na cultura Nagô-Iorubá.

FONTES DOUTRINÁRIAS: “OS ARQUÉTIPOS DA UMBANDA”, “Orixá Exu” e “Lendas da Criação”, livros de Rubens Saraceni, pela Editora Madras; Curso presencial de Exu ministrado por Alexandre Cumino, no Colégio Pena Branca/SP.

Nomes simbólicos: Sete Porteiras, João Caveira, Tatá Caveira, Tranca Ruas, Marabô, Veludo, Sete Encruzilhadas, Sete da Lira, Marabá, Jibóia, Arranca-Toco, Marambaia, Cipó, Folha Seca, Gato, Morcego, Calunga, Sete Coroas, Capa Preta etc.

Dia da semana: Não há um dia exclusivo, pois o campo de atuação de Exu é muito vasto. A designação de um dia específico varia de Terreiro para Terreiro e pode estar relacionada ao Orixá que rege o campo de atuação da Entidade da Casa.